Monday, November 25, 2013

NA ESPREITA

Abro completamente a porta do coração
E deixo a amizade entrar
Mas se eu não tomar cuidado
A falsidade aproveita a ocasião
E também entra junto.


VISITA

Corroído pela ausência
Não sabia o que fazer
Então num ato de coragem
Peguei a saudade pela mão
E fomos de surpresa visitar o coração da mulher amada
Navegando numa balsa feita de flores.


PARADOXO

Vejam só como são as coisas
O defunto está deitado sobre uma cama de flores
Para ele agora pouco importa
O paradoxo fica por conta de que quando vivo
Foi posto a dormir pelos mesmos floristas
Numa cama de espinhos.

Monday, November 18, 2013

BRINCADEIRA ANTIGA

Há sombras rondando a minha nova morada. Elas vêm todos os dias, sem hora determinada. São sombras silenciosas e rápidas, num piscar de olhos elas somem. Não tenho por elas nenhum sentimento, nem medo, nem amor. Saio do meu caixão, subo e me sento sobre um grande mármore escuro. O céu está limpo, consigo ver o sol, mas não o sinto. Vejo as sombras escondidas detrás de um jazigo. Grito para elas:
-Basta! Vocês já não me assustam mais! Agora sou apenas um fantasma como vocês!
Elas chegam até mim, se apresentam sorridentes e me contam como é a antiga brincadeira de assustar novos mortos. Só digo,"estou dentro".

Thursday, November 07, 2013

FANTASMA

No céu estava a lua. No caminho do nada um bebum sem rumo. Encontrei-me andando por uma deserta estrada de terra. Depois de muito caminhar esbarrei numa linda mulher nua e descalça que pisava macio sem fazer barulho algum. Paramos um de frente para o outro, olhos nos olhos. Seus olhos eram brilhantes, corpo curvilíneo, seios pequenos e pontiagudos. Perguntei o que ela fazia naquele lugar ermo, sozinha e nua. Ela me disse então que era uma “prostituta fantasma” e que vagava por aquelas estradas há anos. Perguntou de mim. Falei que era um homem em desespero, perdido. Como já estava me sentindo no inferno não tive medo. Com toda calma ela foi tirando minha roupa e ficamos os dois nus. Pegou na minha mão saímos da estrada. Após alguns passos dentro da mata chegamos até uma cabana. E lá então ficamos trocando carícias até o sol nascer. Nunca me senti tão bem. Dormi e quando acordei ela não estava mais comigo. Sonho? Também pensei, não fosse pelas marcas de batom no meu rosto. 

Saturday, November 02, 2013

PENOSA ANSIEDADE

É sábado. Galinhas assustadas perambulam pelo quintal ansiosas para saber que caiu no sorteio da degola para ser servida no almoço dominical. Mariazinha há uma semana faz exercícios e come muito pouco, quer parecer magra e doente. Carmem só come milho light, apesar de estar bem bundudinha. Cremilda reza o terço em espanhol e faz genuflexões sem parar. Anselma como bosta para pensarem que está louca. Vanda arrumou um esconderijo entre os arbustos e pensa em sair dele somente na segunda-feira. Marta se amasiou com o odiado pavão e foi morar com ele. O ambiente está pesado, existe um clima de tristeza entre as penosas, nem mesmo cocoricar há. No final da tarde chega o galo Ernesto para anunciar para o bem de todas que para o rango de domingo foi escolhido o porco Alberto.

Suspiros...