Saturday, January 28, 2012

Poeminha- Boa alma


BOA ALMA

Ela entrou pelo portão principal do cemitério
E foi aplaudida por milhares de almas antigas
Fez correr do seu caminho espíritos maus
E afastou alguns fantasmas pregadores de peças
Foi então deitar-se tranquilamente no seu esquife acolchoado
Enquanto ao redor os vivos choravam.

Poeminha- Mão amiga


MÃO AMIGA

O abismo estava lá esperando por mim
Mas apareceu uma mão amiga
E pensei estar salvo

Mas qual nada
Era uma grande mão amiga da onça
Com garras afiadas

O tombo foi grande
Mas a dor maior
Foi descobrir tamanha falsidade

Na convalescença do espírito
Refleti sobre uma verdade doída:
Os amigos verdadeiros
São mais raros que os mais belos diamantes.


Friday, January 27, 2012

Miniconto- O buraco

O BURACO
No lugar não havia placa de aviso. Um enorme perigo para os transeuntes que não tinham o hábito de olhar para o chão. Um cidadão distraído com seus pensamentos caiu então no buraco. Gritou ele por socorro durante muitas horas, até que finalmente foi ouvido. Vieram os funcionários da prefeitura e encheram o buraco de pedras e terra. O cidadão distraído não gritou mais.

Miniconto- Esqueletos

ESQUELETOS
Meia-noite. Uma lua de prata brilhava no céu estrelado. Pisava eu com meus sapatos quarenta e dois por uma estradinha deserta, rumando para casa. O vento soprava manso, mas mesmo assim mexia com pequenos arbustos. Tudo calmo na noite, nem um pio da coruja se ouvia. Nisso pensava quando ouvi passos atrás de mim, só ouvidos por causa do silêncio absoluto, tão leves eram. Parei para tentar ver quem caminhava junto comigo naquele lugar ermo, ainda mais por aquelas altas horas. E vi: cinco esqueletos completos estavam lá e caminhavam em fila indiana na minha direção. Usavam chapéus, riam e batiam seus dentinhos. Como nunca acreditei em fantasmas, segui o meu caminho sem pressa. Não parei mais, mas podia os ouvir eles dizendo: espera, espera aí! Chegando em casa soltei da coleira os meus quatro cachorros. Saíram como loucos; olhei para a estradinha e ainda consegui ver um dos esqueletos correndo com uma perna só.

Poeminha- Moça feia

MOÇA FEIA
Quando jovem namorei Luísa
Luísa era uma moça feia
Mas tinha ela o cheiro das rosas
E o beijo mais doce que conheci


Acabei abandonando Luísa
Por uma formosura
E muito me arrependi
Deste ato impensado


Pois passado trinta anos
Não me esqueci da moça feia
Que naqueles dias ensolarados
Fez-me tão feliz.

Poeminha- Quando um amigo se vai

Quando um amigo se vai
Quando um amigo se vai
É como uma estrela que não brilha mais
Mesmo entendendo
E não querendo
A gente sofre
Mais doloroso ainda
É quando ele parte
Assim de repente
Surpreendendo a sua gente
E deixando tantos sonhos pelo caminho.

Poeminha- Quem já foi não sente o perfume

QUEM JÁ FOI NÃO SENTE O PERFUME
O morto aí está
Não fala nada
Não responde perguntas
Hoje você trouxe flores para o velório
Belas flores por sinal
Agora uma pergunta:
Quando ele estava entre nós
Você também lhe dava flores?

Poeminha- Medo

MEDO
Eu já tive medo da escuridão
Por não saber onde pisar
Eu já tive medo de temporais
Que com seus ventos fortes derrubavam árvores
Eu já tive medo de cemitérios
E dos seus pseudos fantasmas
Na verdade de quase tudo eu já tive medo
Todos esses medo ficaram no passado
E hoje só me amedronta
A maldade que envolve o coração dos homens.

Miniconto- Os pistoleiros


OS PISTOLEIROS
Lá nos cafundós do Mato Grosso, perto de onde o diabo perdeu suas cuecas, no final de uma estrada poeirenta e quase sempre vazia, moravam os irmãos Morais; Pedro 38, Paulo 35 e Batista 30. Eram solteiros e quando precisavam se aliviar iam até o bordel da Zefa, em Feliz Natal. Os irmãos Moraes criavam porcos e matavam gente. Mais matavam gente que criavam porcos. Matavam gente perto, matavam gente longe. O importante era a paga. Quem morria só interessava pelo preço. Faziam tudo bem feito; a justiça nunca triscou neles. Mais de trinta estavam na conta, bons lucros às funerárias. Não tinham sentimentos, pouco se importavam em deixar filhos sem pai. Eram pessoas rudes e sem bons sentimentos. A vida era assim; um serviço e depois meses de armas guardadas. O tempo corre... Certo dia chegou naqueles confins uma bela moça morena. Tinha brilho, belo sorriso e pernas roliças. Era quase noite e pediu um lugar para ficar. Com boas intenções eles acolheram a mocinha, acredite quem quiser. Foi um a noite e tanto. Rolou muito sexo e cachaça entre o quarteto. Todos dormiram embriagados e exaustos. Quando clareou o dia ela foi embora antes mesmo dos irmãos acordarem. Dela não mais se soube. Os irmãos?  Depois de alguns dias morreram os três de pinto podre.

Miniconto- O encontro


O ENCONTRO
Esta é a curta história de Nice, uma doce bombinha faceira e formosa que apressadamente marcou um encontro com um pombo galã após conhecê-lo pela internet. Embora avisada pelos familiares dos perigos de encontros assim, nem deu bola e foi. Usou seu melhor perfume e carregou na maquiagem. O local combinado para o encontro foi um casarão abandonado na Vila Dores. Chegaram ao local e foram para o sobrado. Já nas primeiras carícias  o tal pombo mostrou sua verdadeira face. Ela ficou apavorada quando o dito mostrou suas garras. Na verdade não era pombo, mas sim um gavião disfarçado. Azar da pobre pombinha que foi literalmente comida no primeiro encontro. Restaram da Nice penas e sua 
Necessaire.

Miniconto- Canário de estimação


CANÁRIO DE ESTIMAÇÃO
Seu João Maria tinha um canário, o Dodô, que trinava maravilhosamente, sempre alegria da casa. Era o seu xodó. Num domingo em que João Maria foi à igreja, o gato da mulher deu um jeito e pegou o canário. Penas, sobraram penas e nada mais. Seu João até pensou em matar o gato, mas não. Fechou ele na gaiola e disse:
- Agora, canta desgraçado! Você só irá sair daí quando cantar igual ao meu canarinho.
O gato murchou.

Miniconto- A pedra


A PEDRA
Havia uma grande pedra no alto do morro que dava a impressão que logo iria cair. Um especialista foi chamado e disse: “não há perigo, está firme, não cai, eu garanto.” Nisso uma mosca pousou na pedra, a dita firme rolou e achatou o especialista. Ele ficou bem amassadinho.

Miniconto- A fila


A FILA
A fila ultrapassava cinco quarteirões. O passante curioso perguntou para o último dos esperançosos:
-Fila para emprego?
-Não. Estamos pegando senha para no futuro entrarmos no paraíso.
O passante ficou atônito:
- É grátis?
-Não! Duzentos reais.
-Bem caro- falou o passante. - Acho que irei aguardar pela fila do purgatório. Espero que seja mais em conta.