Monday, November 26, 2012

O RELÓGIO


O RELÓGIO
Jarbas e Jardel brincando no bosque encontraram um relógio, o relógio do tempo. Cheios de curiosidade foram mexendo nele, descobrindo seus mecanismos. Fizeram-no então parar e descobriram em poucos dias que o tempo não mais existia para eles. Jogaram então o relógio do tempo num abismo e foram viver eternamente suas vidas como crianças.

PROFISSÃO MENDIGO

PROFISSÃO MENDIGO
É pouco depois da hora de almoço. Homem maltrapilho está deitado no banco da praça, descansando, suado e atraindo moscas. Ninguém o vê, todos passam sem notá-lo. Antes das duas da tarde ele fica em pé e caminha até a esquina. Senta-se na calçada e estende o boné para angariar esmolas. Assim passa o resto do dia. Quando os sinos da catedral batem seis horas ele recoloca o boné na cabeça. Logo surge um Corolla preto, o motorista desce e pergunta para ele:
-Vamos patrão?

Saturday, November 03, 2012

Apertando os olhos


APERTANDO OS OLHOS

Tarde amena. O homem olhava pela janela do apartamento que visitava interessado em comprar. Estava ele no décimo andar. Observava no prédio vizinho uma mulher que se despia em frente ao espelho. Logo surgiu um jovem que começou a beijá-la sem parar. Cheio de curiosidade continuou olhando para ver no que dava. Deitaram-se na cama, ele ainda vestido. Resolveu ligar para sua mulher para contar o que estava acontecendo. A mulher pelada largou o jovem e apanhou na bolsa o celular que tocava. Foi aí que ele franziu o cenho e apertou os olhos para tentar enxergar com maior clareza quem era ela.

Thursday, October 25, 2012

O VOO


O VOO
Tomas dormia durante o voo. A aeronave estava em velocidade de cruzeiro quando ele acordou. Após olhar detalhadamente em volta percebeu algo estranho. Naquele voo pareciam estar reunidas inúmeras pessoas famosas já falecidas. Ao seu lado, por exemplo, estava um passageiro que era sósia do Mahatma Ghandi. Do outro lado do corredor viu com clareza Airton Senna gargalhando ao brincar com amigos. Alguma coisa diferente acontecia. Quando foi ao banheiro deu de frente com uma pessoa muito conhecida aos católicos, o Papa João Paulo II, que pelo dizeres do crachá era o co-piloto do avião. Quando Madre Tereza de Calcutá, uniformizada de aeromoça passou com o carrinho de lanche pelo corredor, Tomas ficou pálido e perguntou ao senhor ao lado o que estava acontecendo naquele avião. O ancião olhou rindo para ele e respondeu:
- Acorde tonto, você está sonhando.



SOB A MARQUISE


SOB A MARQUISE
A chuva caía forte na tarde. Saí do banco desprotegido então parei sob uma marquise. Logo estávamos em mais de dez, entre mulheres e homens. Tentei puxar conversa para passar o tempo enquanto descia o aguaceiro. Todos usavam máscaras de carranca e não queriam papo, absorvidos em suas complicadas vidas. Fiquei na minha, pensando em coisas boas que ainda teria no dia, como visitar minha mãe e comer pão caseiro da hora. Não demorou e meu motorista chegou, deixando todos ali perplexos. Embarquei no meu Rolls Royce sob abanos tímidos e sorrisos falsos dos companheiros de marquise.

Sunday, October 21, 2012

Poeminha


OBEDEÇO
Manda-me partir
Assim sem mais nem menos
Ainda nesta noite
Muito te amo ingrata
Porém não te peço arrego
Parto
Parto dividido
Uma parte de mim queria ficar
Mas meu amor próprio falou
Vá!

Miniconto- Falhou

FALHOU
O esquisitóide violento entrou no quadrado de madeira de arma em punho. Na cama viu um bípede peludo dançando ritmado sobre sua fêmea que suspirava alto. Tentou disparar os projéteis por seis vezes e nada. Falhas repetidas.  Irado, tentou contra sua própria cabeça, aí então funcionou e ele caiu morto. Os amantes ainda na cama marcaram a data de casamento.

Friday, October 19, 2012

O MANDÃO


O MANDÃO
História antiga da cidade de Barro Preto. Contam os velhos que havia na cidade um homem brabo que só o cão, o Coronel Artur Cerejeira. Mandava e desmandava, botava e tirava. Era diferente dos outros, não mandava matar, matava. Os cachorros perdidos faziam voltas para não encontrá-lo. Nem morrer ninguém morria sem ele mandar. Nem o vento soprava sem ele dar autorização. Certa feita o jovem Nicolau, na flor dos dezoito anos morreu de repente, doença não sabida. O Coronel ficou sabendo e foi ao velório já fulo da vida. Entrou, mandou parar com a choradeira e ordenou que o defunto se levantasse do caixão. Pois foi que o defunto se levantou  e saiu correndo. Nunca mais foi visto, dizem que só parou de correr em São Paulo. O povo que lá estava jura que é verdade. Vai saber...

SURUBA PAROQUIAL


SURUBA PAROQUIAL
Naquela tarde de sábado resolvi visitar meu amigo Severino que há muito eu não via. Cheguei à sua residência, bati algumas vezes e ninguém atendeu. Pousei a mão no trinco e hesitei. Vindo de dentro da casa ouvi gemidos. Chovia, olhei em volta e não nenhuma alma para me acompanhar. Forcei o trinco e percebi que a porta estava aberta. A casa estava às escuras, fui entrando devagar, passos miúdos e leves para não fazer ruídos. Na parte de baixo não encontrei ninguém, tudo em ordem. Novamente ouvi gemidos vindos do segundo piso. Subi as escadas e entrei na primeira porta que estava aberta. Visão do inferno. Lá estava Severino, pelado e algemado na cama, levando uma surra de chicote da Irmã Cacilda, também nua e usando botas de cano longo. Apavorado, fui saindo e fechando a porta devagar, foi quando ainda pude ver o pequeno guarda-roupa desabar e sair de dentro dele o padre Malaquias nuzinho e com um vibrador na mão.

Thursday, October 18, 2012

Poeminha- Vi tua foto no Face


Poeminha- Vi tua foto no Face

Depois de tantos anos sem te ver
Vi tua foto no Face
Estremeci
E foi o que bastou pra saudade bater
Para meu coração entrar em descompasso
E querer de novo o teu abraço
Sem demora
É só tu querer.


Wednesday, October 17, 2012

Não acontece nada


NÃO ACONTECE NADA
O sol está radiante. Uma borboleta da voltas e pousa na rosa. Maria arruma os longos cabelos e senta-se num banco do parque. O vento sopra. Uma folha morta despenca da árvore. Formigas apressadas entram no formigueiro. Crianças fazem alarido pelo gramado bem cuidado enquanto seus pais montam guarda. O vendedor de picolé limpa o suor do rosto com uma toalha branca sem mancha. Rugas verdes enchem suas pancinhas de folhas jovens. No céu azul, nuvens passeiam, de vez em quando ganhando sustos de aviões enormes. Um casal de namorado briga, outro troca carícias. Ao longe, na estrada, centenas de automóveis se empurram em busca de espaço. Um magrelo anda por ali montado em sua magrela. Um senhor careca passeia e contrasta com seu cão peludo. Pássaros gorjeiam, e quem ouve com o coração aplaude. Pois é, a vida chata, não acontece nada.

O Assalto


O ASSALTO
Era quase meio dia.  A porta foi do escritório foi forçada e dois homens entraram de armas em punho. O mais alto gritou: É um assalto, todos para o chão! Severino sem tirar os olhos do texto que estava digitando berrou: Então entra de uma vez seu filho da puta, fecha essa porta que está entrando um vento frio, não quero pegar um resfriado!   O bandido mais alto tirou os óculos escuros e fez menção de atirar, mas ao ver quem era apenas balbuciou... papai. Pediu sua bênção e foi assaltar o escritório ao lado.

Monday, October 15, 2012

Miniconto- Chamando Maria


CHAMANDO MARIA
O copo está  na mesa cheio de aguardente. Honório vê figuras duplas nos quadros pendurados, vê também o copo em duplicidade, talvez pensando que o conteúdo também seja duplo. Arrasta os chinelos, bate o joelho direito no canto do sofá, mas anestesiado pelo álcool não sente dor. Tanta cantar uma velha canção e a baba escorre, as palavras saem tortas. Seus olhos estão em brasa, seu hálito é fétido. Agora quer comer. Chama pela esposa Maria, que não vem. Xinga Maria de vaca velha, Maria não responde. Não contente, começa a quebra pratos e copos, atirando-os na parece. Chama Maria novamente, chamado que novamente não é correspondido. Derruba então a cristaleira e quebra as cadeiras no tampo da mesa. Um alvoroço. Chama Maria de cadela sarnenta e Maria então vem... Vem, mas não vem só, traz consigo um porrete de aroeira e manda a borduna sem dó. O destemido cai de quatro tastaviando à procura da porta de saída. Quer ir rumo ao deus dará. Antes de ganhar a rua já tem duas costelas quebradas e uma orelha caída. Fora da casa quis ficar em pé, porém uma porretada no joelho o deixou sem reação. Entregou-se. Para não apanhar mais prometeu comprar novos móveis e utensílios sem reclamar. E a  chamar Maria de meu bem.

Thursday, October 11, 2012

Miniconto- MON


MON
Mon está sentado na beira do abismo. Suas pernas balançam no ar chutando bolas invisíveis. Não se encontra mais consigo mesmo, é o dia de maior desespero. Olha para suas mãos calejadas, suas unhas sujas de terra e grita silenciosamente se tudo que fez valeu à pena. Retira do bolso da camisa e relê o telegrama que trouxe a notícia da morte de seu filho único. O punhal é cravado de novo, mais fundo. Não suporta. Basta. Deixa seu corpo pesado cair no abismo em busca da leveza da vida sem dor.

Wednesday, October 10, 2012

Miniconto- Solidários, mas não muito


SOLIDÁRIOS, MAS NÃO MUITO

Na segunda metade do século XXI uma grande epidemia dizimou metade do povo brasileiro. Nas pequenas vilas do nordeste em que a ajuda não chegou a tempo, os mortos dormiam nas ruas. Sem comida e sem remédios o povo fugia desesperado levando apenas algumas roupas...  

Saídos de uma pequena cidade do interior do Brasil vinte casais em fuga caminharam por mais de cinco mil quilômetros em busca de um lugar seguro para ficar. Unidos, todos se ajudaram nos momentos difíceis de enfermidades e fome. Repartiam bolachas e grãos de feijão. Nas horas de desespero e abandono um casal apoiava o outro, solidários e cheios de afeto. Enfrentaram juntos temporais e o pranto de saudade dos queridos mortos. Diante da desgraça pareciam irmãos de sangue. Aconteceu então o dia que a vintena de desterrados entrou numa fazenda abandonada e além de cadáveres por todos os lados encontrou uma maleta com mais de R$ 2 milhões de reais abandonada num canto. Enterraram os mortos e descansaram...

Planejaram que quando estivessem em um lugar definitivo dividiriam o montante em partes iguais. Foram dormir felizes com a esperança de um amanhã melhor. Durante a noite enquanto todos os demais dormiam o casal Marcoloto, com pés de pano, partiu levando o pequeno tesouro da comunidade. Quando acordaram e perceberam o insulto, ninguém reclamou. Contavam-se felizes por estarem todos livres da doença. Na vida não se pode ter de tudo.

Tuesday, October 09, 2012

Miniconto- Pesadelo


PESADELO
Acordo do meu pesadelo todo suado. Acendo a luz e bebo um gole d’água. Olho em volta ainda assustado. No meu sonho caio de uma sacada no colo do diabo. Mas pesando 140 quilos não dei chance ao capeta e o arrebentei todo. No chão, arfando irado e com os chifres quebrados ele deu o último suspiro dizendo:
- Elefante besta morando em apartamento...

Wednesday, October 03, 2012

Miniconto- Dia ruim

DIA RUIM

Ele acordou dentro do ataúde fechado. Acendeu a lâmpada e viu que relógio havia parado. Droga de relógio falsificado! Ninguém mandou fazer economia, ralhou consigo mesmo. Que horas serão? Dia ou noite? Apanhou uma bala de hortelã para dar um lustro no bafo, que estava horrível. Bateu o pó do smoking, fechou os botões e foi abrindo a tampa do caixão bem devagar. Percebeu que era noite e respirou aliviado. Foi à geladeira e tomou seu diário copo de sangue. Porra! Sangue azedo. Cuspiu diversas vezes querendo tirar o gosto, mas por azar cuspiu em cima do sapato novo. Irado, transformou-se em morcego e saiu batendo asas rumo ao Banco de Sangue em busca do desjejum.
- Está uma merda ser vampiro!

Sunday, September 30, 2012

Medo da morte

"Por que temes morrer? Medo do fogo, temor da escuridão sem fim? Uma mentira repetida bilhões de vezes a torna verdade? O inferno é a consciência atormentada pelo remorso. Corpo morto, não há trevas, não há fogo, não há paraíso, somente o nada, a paz de dormir sem acordar, sem pesadelos. É duro saber que não voltaremos e que não teremos ninguém nos esperando do outro lado, que não existe o outro lado, somente o lado de cá, dos vivos e também dos mais vivos, que estão por aí a vender uma mercadoria que jamais entregarão."
(FILOSOFENO, o filósofo que dorme sobre o capim)

Saturday, September 29, 2012

Miniconto- Carniça


CARNIÇA
O urubu percebeu um corpo inerte estendido na areia do deserto. Fez o reconhecimento e pousou o sobre o cadáver. Deu a primeira bicada, engoliu, sentiu náuseas e foi então que percebeu que o corpo que devorava pertencia a um general nazista carregado de medalhas. Fez cara de nojo e esbravejou: putz!

Miniconto- Não era meu parente

NÃO ERA MEU PARENTE
O sol se põe e há um homem morto caído no meio da rua. A multidão se aglomera para ver o cadáver. O povo gosta mesmo de ver a desgraça dos outros. Não existe sangue no asfalto, apenas um leve filete saindo do nariz do pobre. Uma bicicleta torta atirada ao lado já diz tudo. A mulher de blusa vermelha olha bem de perto para ver se não é um primo seu. O homem de camiseta amarela e boné branco também chega bem perto para ver se o reconhece. Nada. Vem o perito, faz os procedimentos e o leva embora. O atropelador, em casa, sossegado, toma mais uma cerveja. Dias depois, descoberto pela lei e questionado o porquê de não ter prestado socorro, diz: “Que importa? Não era meu parente”.

“No meu caminho havia um padre. Havia um padre no meio do meu caminho e depois na minha cama.” (Josefina Prestes)

Tuesday, April 24, 2012

Miniconto- METAMORFOSE

METAMORFOSE
Não importava o sol abrasador que torrava os miolos. Não importava o odor terrível que emanava daqueles latões de lixo, tanto que até urubus passavam por perto usando máscaras. Mas Demétrio não se importava; lá estava todos os dias mexendo em tudo, catingando ele próprio mais que os restos ali depositados. Seu corpanzil há anos não sabia o que era a carícia das águas que não fosse da chuva. Carregava moscas pelo rosto todos os dias, como se fosse um lotação de insetos, sendo algumas também embarcadas nas orelhas. Vivia, comia e dormia na imundície, lugar mais sujo impossível. O corpo adornado de perebas já nem se importava mais. Assim foi por muitos e muitos anos. Porém um dia acordou sentindo-se estranho, muito diferente. Olhou para algumas ratazanas com segundas intenções. Estava dentuço e peludo. Tinha agora os gostos de um rato, bigodes de rato, orelhas de rato, dentes de rato, enfim, transformara-se num rato. Ao contrário do caixeiro- viajante Gregor Samsa, de Kafka, o Demétrio rato estava feliz. E assim continuou vivendo por mais alguns dias até ser comido por um gato esfomeado.

Sunday, April 22, 2012

BLECAUTE

A cidade ficou às escuras por muitas horas. Um blecaute inexplicável tomou conta de toda área urbana, provocando o caos. Acidentes de trânsito, assaltos, quebra-quebra nas lojas, estupros e outras violências. A polícia não conseguia atender nem metade dos casos, para desespero dos cidadãos. Também milhares de vampiros foram liberados dos seus caixões e saíram às ruas em busca de sangue. A desgraça só não foi maior porque todos os bares de sangue permaneceram abertos.

ENQUANTO O MARIDO NÃO CHEGA

ENQUANTO O MARIDO NÃO CHEGA
A mesa estava posta. Soube pela vizinha que o marido ficara no boteco jogando baralho e bebendo pinga. Ela na janela esperava por ele, já passava das oito e nem sinal do dito. Estava toda maquiada e perfumada, bem a fim de uns amassos. E o maridaço no boteco tomando pinga, esquecido de casa. Esperou mais meia hora e como o especial não apareceu, abriu a porta do guarda-roupa e disse para o Ricardo sair; estava na hora do show.

Miniconto- Pedreiro e Corajoso

PROFISSÃO: PEDREIRO E CORAJOSO
Gilberto Antonio, profissão: pedreiro e corajoso. Fama tinha de valente e bravo. Não tinha medo de nada, enfrentava quem ou o que viesse no braço, no tiro ou no facão. Naquela tarde trabalhava solito no mais dentro do cemitério, na construção de um jazigo. Era final de tarde e o tempo estava nublado, querendo chover. O vento fazia barulho, balançava o arvoredo. Gilberto labutava num buraco de dois metros de profundidade, assentando tijolos e assoviando. O vento batendo e Gilberto assoviando feliz. Uma lona plástica preta cobria os materiais de construção como cimento e a cal. Naquele lugar de silêncio quase absoluto, uma rajada de vento mais forte levantou a lona e a jogou sobre Gilberto. Distraído, levou um tremendo susto, escureceu tudo, pensou: “é uma alma penada querendo me levar!” Saltou para fora do buraco como um gato assustado e correu mil metros tal qual um velocista, até chegar ao hospital. Prontamente atendido, foi constatado um princípio de infarto, mas não se sabe se foi pelo esforço da corrida ou pelo cagaço.

Miniconto- SUPERSTICIOSO

SUPERSTICIOSO
Virgulino era o cão de supersticioso. Sempre levantava da cama com o pé direito e não saí de casa sem antes saber do horóscopo. Naquela manhã caminhava pela rua do comércio quando se deparou com uma escada erguida e um gato preto debaixo dela. Não pensou duas vezes: saiu da calçada e contornou pela pista. Mas levou azar o Virgulino: foi atropelado por uma carroça puxada por um burro. No hospital, com pernas e braços quebrados, ficou pensando se não era ele quem deveria estar puxando a carroça.

“A grande função da leitura é libertar o homem de mitos e superstições.”(Janer Cristaldo)

Monday, March 26, 2012

Poeminha- Se eu fosse um poeta

Se eu fosse um poeta,
escreveria em pétalas de rosas
uma poesia pra você.
Mas destituído de talento,
só me resta mandar esta carta simples
nesta folha sem graça,
escrita em letra de forma, 
dizendo que estou derretido 
e mais um pouco pela sua pessoinha.

Sunday, March 25, 2012

“Sou mais um desiludido com a política praticada em meu país. Politicamente estou órfão.”

“Alguns seres menores só nos reconhecem quando precisam de ajuda. Sem isso, nos viram o rosto.”

“A vida de qualquer um daria um livro. É claro que alguns seriam indicados como soníferos.”

“O idiotas fundamentalistas estão mesmo tomando conta do mundo. Se depender deles, dentro de pouco só teremos para ler bulas de remédios."

A MINHA VERDADE


A MINHA VERDADE

Procurei a verdade sobre o lugar final do caminho sem retorno.
Porém na busca apenas colecionei mentiras e aproveitadores sem fim.
Quando então, convicto do nada,
Decidi apenas amar e seguir o caminho da vida,
Tirei um enorme peso dos ombros e consegui ser feliz.

Morre o escritor italiano Antonio Tabucchi

O escritor italiano Antonio Tabucchi faleceu em Lisboa aos 68 anos após uma longa doença, informou neste domingo o tradutor de sua obra para o francês, Bernard Comment. Considerado um dos maiores autores italianos contemporâneos, Tabucchi escreveu obras como Afirma Pereira e O Tempo Envelhece Depressa. Autor de mais de 20 livros traduzidos para quase 40 idiomas, o romancista, professor universitário e ensaísta era tradutor da obra do escritor português Fernando Pessoa para o italiano e um de seus principais divulgadores.

Monday, February 20, 2012

Poeminha

CORRIDA
Corra
Corra menino
Corra menino na busca do saber
Senão restará para você
Ser apenas mais um zero
No mundo dos nadas.

Friday, February 10, 2012

Poeminha- Gaiola

GAIOLA

Gaiola não é hotel.
Por mais que o serviço seja bom, falta o principal:
A liberdade só conseguida nos céus.
Homens, abram as portinholas e consintam aos pássaros
O direito de viver sem limites.

Thursday, February 09, 2012

Miniconto- Intranquilo

INTRANQUILO
Ele saiu de casa naquela tarde completamente intranquilo, estando seu cérebro em chamas. Repetia para si: “hoje eu mato alguém, hoje eu mato alguém.” Deixou o automóvel na garagem e seguiu caminhando em direção à cidade. Na cabeça usava um boné branco e na mão direita um revólver calibre 38, carregado com cinco projéteis. No caminho cumprimentou bodes e galinhas, patos não havia. Duas centenas de metros antes da cidade ele empacou. Sentou-se numa pedra e ficou por alguns minutos pensativo, até mesmo sem cuspir. Então deu um grito pavoroso  que acordou os japoneses, esbugalhou os olhos e atirou na própria cabeça. Em casa, sua mulher sentiu o coração palpitar quando viu os comprimidos do marido doente jogados no lixo.

POEMINHA- CERTEZA

CERTEZA
A vida corre
A morte nos espera
Somos ínfimas partículas
Filhas longínquas da grande explosão
Então mesmo sabendo
O que nos aguarda no fim
Vivemos com pressa
Como se a morte
Fedorenta e fria
Não fosse nos esperar.

POEMINHA- LOUCURA

LOUCURA

Vivemos dentro sociedade uma tempestade de
Drogas
Pressa
Trânsito maluco
Desamor
Interesses
Crueldade
Corrupção
Desconfiança
Stress
Depressão
O melhor a fazer é desligar o motor do mundo
E criar o seu próprio modo de viver.

POEMINHA- RECADO


RECADO
Querida,
receba o meu coração através desta andorinha.
Vai embrulhado em papel pardo.
Faça dele o que quiser,
pois morto já estou.
PS: Morri de saudade.

POEMINHA- O CIRCO


O CIRCO

Era um circo pobrezinho,
De parcos recursos e lonas rasgadas.
Não tinha animais em jaulas, nem mesmo um velho leão.
Sobrevivia de espetáculos de lutas e palhaçadas,
Mas era um circo alegre.
Porém um dia o circo pobre
Além de pobre ficou triste:
Seu artista principal foi morto num bordel.
Meus olhinhos de criança
Viram quando saiu o cortejo,
Acompanhado por dois palhaços
E nenhuma multidão.

Saturday, January 28, 2012

Poeminha- Boa alma


BOA ALMA

Ela entrou pelo portão principal do cemitério
E foi aplaudida por milhares de almas antigas
Fez correr do seu caminho espíritos maus
E afastou alguns fantasmas pregadores de peças
Foi então deitar-se tranquilamente no seu esquife acolchoado
Enquanto ao redor os vivos choravam.

Poeminha- Mão amiga


MÃO AMIGA

O abismo estava lá esperando por mim
Mas apareceu uma mão amiga
E pensei estar salvo

Mas qual nada
Era uma grande mão amiga da onça
Com garras afiadas

O tombo foi grande
Mas a dor maior
Foi descobrir tamanha falsidade

Na convalescença do espírito
Refleti sobre uma verdade doída:
Os amigos verdadeiros
São mais raros que os mais belos diamantes.


Friday, January 27, 2012

Miniconto- O buraco

O BURACO
No lugar não havia placa de aviso. Um enorme perigo para os transeuntes que não tinham o hábito de olhar para o chão. Um cidadão distraído com seus pensamentos caiu então no buraco. Gritou ele por socorro durante muitas horas, até que finalmente foi ouvido. Vieram os funcionários da prefeitura e encheram o buraco de pedras e terra. O cidadão distraído não gritou mais.

Miniconto- Esqueletos

ESQUELETOS
Meia-noite. Uma lua de prata brilhava no céu estrelado. Pisava eu com meus sapatos quarenta e dois por uma estradinha deserta, rumando para casa. O vento soprava manso, mas mesmo assim mexia com pequenos arbustos. Tudo calmo na noite, nem um pio da coruja se ouvia. Nisso pensava quando ouvi passos atrás de mim, só ouvidos por causa do silêncio absoluto, tão leves eram. Parei para tentar ver quem caminhava junto comigo naquele lugar ermo, ainda mais por aquelas altas horas. E vi: cinco esqueletos completos estavam lá e caminhavam em fila indiana na minha direção. Usavam chapéus, riam e batiam seus dentinhos. Como nunca acreditei em fantasmas, segui o meu caminho sem pressa. Não parei mais, mas podia os ouvir eles dizendo: espera, espera aí! Chegando em casa soltei da coleira os meus quatro cachorros. Saíram como loucos; olhei para a estradinha e ainda consegui ver um dos esqueletos correndo com uma perna só.

Poeminha- Moça feia

MOÇA FEIA
Quando jovem namorei Luísa
Luísa era uma moça feia
Mas tinha ela o cheiro das rosas
E o beijo mais doce que conheci


Acabei abandonando Luísa
Por uma formosura
E muito me arrependi
Deste ato impensado


Pois passado trinta anos
Não me esqueci da moça feia
Que naqueles dias ensolarados
Fez-me tão feliz.

Poeminha- Quando um amigo se vai

Quando um amigo se vai
Quando um amigo se vai
É como uma estrela que não brilha mais
Mesmo entendendo
E não querendo
A gente sofre
Mais doloroso ainda
É quando ele parte
Assim de repente
Surpreendendo a sua gente
E deixando tantos sonhos pelo caminho.

Poeminha- Quem já foi não sente o perfume

QUEM JÁ FOI NÃO SENTE O PERFUME
O morto aí está
Não fala nada
Não responde perguntas
Hoje você trouxe flores para o velório
Belas flores por sinal
Agora uma pergunta:
Quando ele estava entre nós
Você também lhe dava flores?

Poeminha- Medo

MEDO
Eu já tive medo da escuridão
Por não saber onde pisar
Eu já tive medo de temporais
Que com seus ventos fortes derrubavam árvores
Eu já tive medo de cemitérios
E dos seus pseudos fantasmas
Na verdade de quase tudo eu já tive medo
Todos esses medo ficaram no passado
E hoje só me amedronta
A maldade que envolve o coração dos homens.

Miniconto- Os pistoleiros


OS PISTOLEIROS
Lá nos cafundós do Mato Grosso, perto de onde o diabo perdeu suas cuecas, no final de uma estrada poeirenta e quase sempre vazia, moravam os irmãos Morais; Pedro 38, Paulo 35 e Batista 30. Eram solteiros e quando precisavam se aliviar iam até o bordel da Zefa, em Feliz Natal. Os irmãos Moraes criavam porcos e matavam gente. Mais matavam gente que criavam porcos. Matavam gente perto, matavam gente longe. O importante era a paga. Quem morria só interessava pelo preço. Faziam tudo bem feito; a justiça nunca triscou neles. Mais de trinta estavam na conta, bons lucros às funerárias. Não tinham sentimentos, pouco se importavam em deixar filhos sem pai. Eram pessoas rudes e sem bons sentimentos. A vida era assim; um serviço e depois meses de armas guardadas. O tempo corre... Certo dia chegou naqueles confins uma bela moça morena. Tinha brilho, belo sorriso e pernas roliças. Era quase noite e pediu um lugar para ficar. Com boas intenções eles acolheram a mocinha, acredite quem quiser. Foi um a noite e tanto. Rolou muito sexo e cachaça entre o quarteto. Todos dormiram embriagados e exaustos. Quando clareou o dia ela foi embora antes mesmo dos irmãos acordarem. Dela não mais se soube. Os irmãos?  Depois de alguns dias morreram os três de pinto podre.

Miniconto- O encontro


O ENCONTRO
Esta é a curta história de Nice, uma doce bombinha faceira e formosa que apressadamente marcou um encontro com um pombo galã após conhecê-lo pela internet. Embora avisada pelos familiares dos perigos de encontros assim, nem deu bola e foi. Usou seu melhor perfume e carregou na maquiagem. O local combinado para o encontro foi um casarão abandonado na Vila Dores. Chegaram ao local e foram para o sobrado. Já nas primeiras carícias  o tal pombo mostrou sua verdadeira face. Ela ficou apavorada quando o dito mostrou suas garras. Na verdade não era pombo, mas sim um gavião disfarçado. Azar da pobre pombinha que foi literalmente comida no primeiro encontro. Restaram da Nice penas e sua 
Necessaire.

Miniconto- Canário de estimação


CANÁRIO DE ESTIMAÇÃO
Seu João Maria tinha um canário, o Dodô, que trinava maravilhosamente, sempre alegria da casa. Era o seu xodó. Num domingo em que João Maria foi à igreja, o gato da mulher deu um jeito e pegou o canário. Penas, sobraram penas e nada mais. Seu João até pensou em matar o gato, mas não. Fechou ele na gaiola e disse:
- Agora, canta desgraçado! Você só irá sair daí quando cantar igual ao meu canarinho.
O gato murchou.

Miniconto- A pedra


A PEDRA
Havia uma grande pedra no alto do morro que dava a impressão que logo iria cair. Um especialista foi chamado e disse: “não há perigo, está firme, não cai, eu garanto.” Nisso uma mosca pousou na pedra, a dita firme rolou e achatou o especialista. Ele ficou bem amassadinho.

Miniconto- A fila


A FILA
A fila ultrapassava cinco quarteirões. O passante curioso perguntou para o último dos esperançosos:
-Fila para emprego?
-Não. Estamos pegando senha para no futuro entrarmos no paraíso.
O passante ficou atônito:
- É grátis?
-Não! Duzentos reais.
-Bem caro- falou o passante. - Acho que irei aguardar pela fila do purgatório. Espero que seja mais em conta.