Monday, January 28, 2013

O PERFEITO AVARENTO


O PERFEITO AVARENTO

Uma carta anônima recebida pelo Promotor Público Roberval Sintra levantou suspeita de envenenamento na morte do senhor Demóstenes Sotero, fazendeiro mais conhecido na sua cidade como o “perfeito avarento”. Homem de muitas posses, sua viagem sem retorno seria interessante para muitos parentes, mas não foi. Esperavam pela herança que não veio. Fez doação de todos os seus bens para suas amantes. Aos parentes, nada. O juiz Carlos Raul então determinou que o corpo fosse desenterrado para nova perícia. Cidade pequena, grande assunto. O povo, sempre curioso, invadiu o cemitério. Até parecia quermesse paroquial.  Não faltaram vendedores de garapa, picolé e milho verde; moças de vestidos novos e lábios vermelhos. Quando foi aberto o caixão, surpresa para todos: O corpo estava deitado de lado, a língua de fora, como se estivesse assim para molhar os dedos e contar dinheiro. Em suas mãos havia milhares de reais em notas mofadas e puídas. Moedas de ouro pularam dos bolsos quando mexeram com ele. Alguns parentes, espichando os olhos, contavam com tristeza a pequena fortuna que poderia ser deles. Alguns até choraram. Porém nada foi constatado e o assunto foi encerrado. Passado alguns anos, só os parentes em suas conversas reservadas, lembram ainda com saudade doída daquelas notas, daquelas moedas...

Saturday, January 26, 2013

É PRECISO DUVIDAR


É PRECISO DUVIDAR

Quem não duvida
Engole o pronto
Gosto é gosto
Não se discute
Absorvido o pronto
O pensar não repercute
Morre no ser que o recebeu
Como verdade absoluta.

PODER


PODER
O poder se assenta sobre a mentira
Mentira dita
Mentira repetida
Mentira que se torna verdade
Propaganda é a alma
Faz o povo se sentir num virtual paraíso
Não é fácil aceitar tudo isso
Pois quando eles chegam lá
Pegam gosto pela coisa
E não querem mais tirar os beiços da teta
O poder causa grandes comichões
E fantásticas comissões.

URNA

URNA

Entra o voto
No Celso ou no Otto
Às vezes também muda o traje e a foto
Porém no sistema miau nada muda
Isso eu bem noto.

CIRROSE

CIRROSE

No embalo de todo os dias
À embriaguez ele não renuncia
O corpo abre os olhos
Já pedindo glicose
Ou mesmo uma nova dose
Enquanto pacientemente espera pela cirrose.

MOTOARMA

MOTOARMA

Morteciclista
Arma na mão
O capacete esconde o rosto
Sua arma mostra o coração.

Friday, January 25, 2013

POEMINHA

LADRÃO
Tem um ladrão na sala
De diversas polegadas
Fica por horas roubando o seu tempo
Normalmente sem nada a acrescentar
Enquanto os bons companheiros
Apanham poeira na estante.

Thursday, January 24, 2013

ESTRESSADO

ESTRESSADO

O guarda - rodoviário Nestor não estava num bom dia. Talvez fosse pela noite mal-dormida, pelos problemas de saúde da mulher, ou pela insatisfação salarial que sentia. Há meses que suas noite eram atormentadas pela insônia, nem mesmo os medicamentos o ajudavam. Preocupações demais, sono de menos.
As horas se passavam pesadas e cansativas nesse dia cinzento que anunciava chuva. Quando teve que parar um motorista que voava baixo pelo asfalto, Nestor não pensou duas vezes antes de agir. Aproximou-se e tirou o sujeito do automóvel a tapas, ainda fez ele se despir e correr nu pela estrada. Puro abuso de autoridade. Depois disso atirou nos pneus do veículo e foi para casa bocejando.

POEMINHA

ESTÁS DENTRO?
O obstruído mental bebe sua cerveja/iogurte/refrigerante enquanto dirige
Então atira o vasilhame no asfalto.
Nada se compara a ser energúmeno e porco.

POEMINHA


LUTO

Apaga-se a própria vida
Pela dor da ausência
Vive-se mais o morto
Que os vivos nas cercanias
Não existe luta contra o luto
Apenas cobre o coração com ele.

POEMINHA


TEMPORAL

Nuvens baixas
Ventos quentes
Escuridão que amedronta

Ele adentra ao porão
E faz seu refúgio
Sob uma velha mesa.

O temporal uiva e assopra
Enquanto o coração do pequeno
Explode de medo e sai pela boca.

Friday, January 18, 2013

PARA QUEM DITA AS DORES

“Ó ditadores de todos os matizes que ostentam brilhantes medalhas imerecidas, comendas e adjetivos superlativos; vós que sois usurpadores da liberdade de pensar diferente e do direito de ir e vir; vós fedeis mais que matéria fecal e confesso que tenho pena dos vermes que um dia comerão vossas carnes, pois restarão para eles apenas a indigestão e vômito.”(Filosofeno)

ESPERANÇA


ESPERANÇA
Formigas caminham pela varanda completamente despreocupadas enquanto um cão preguiçoso boceja deitado satisfeito na cerâmica fria. Nuvens passeiam pelo céu, sem pressa. O sol vespertino é forte; o verde das árvores se destaca; o cantar dos pássaros presos é triste. Alados libertos cruzam os ares fazendo alarido e lamentando a má-sorte dos irmãos engaiolados. Não tem jeito, quem está na gaiola canta de tristeza, mas os obtusos pensam que é de alegria. Quem canta seus males espanta; eles sabem disso mais do que ninguém. Uns poucos ainda olham para cima com esperança de um dia poder novamente voar. A esperança, sempre ela, junto do ser até o derradeiro suspiro.

ABISMO

ABISMO

Há uma porta aberta no fim do corredor. O ambiente é convidativo, a energia do grupo contagia os novos chegados; cânticos e louvores são ouvidos e inflamam corações. A maioria dos presentes passa pela porta ciente que é dono da verdade futurista. Por livre vontade caem então no abismo da exploração do qual poucos voltam. Os louvores e valores continuam.