O clima na sala estava tenso, o calor abraçava todo o ambiente. Mãos suadas e nervos em frangalhos faziam parte do momento, do último capitulo da novela das oito. No mundo da fantasia tudo é possível, até Ana se tornar heroína, fera indomável na luta contra os maus. Na vida real a campainha do apartamento não parava de tocar... Os bombeiros entraram avisando que o prédio estava em chamas, todos para fora! A noveleira correu com a televisão nos braços. Quando chegou à rua lembrou-se do filhinho que estava dormindo. Não precisou retornar, os bombeiros desceram com o pequeno Lucas nos braços. Não sorriu, tampouco agradeceu, apenas lamentou o capítulo da novela que perdera.
Todos os dias Dona Ofélia comparecia ao cemitério para chorar pelo falecido marido que desencanou faz 90 dias. Foram cinco décadas de feliz união, dizia ela. O falecido Romualdo Ferreti não pode ser consultado sobre o assunto, posto que já não opina sobre nada diante da sua situação,digamos, mortal. Pois eu dizia que Dona Ofélia comparecia ao cemitério todos os dias para chorar por ele, sim, comparecia. Deixou de ir. Pois foi que entre idas e vindas, entradas e retiradas ,acabou se casando com o irmão do falecido na semana passada. E decidiu que não ficava bem para uma mulher casada ficar todos os dias chorando e lamentando a morte do cunhado.