Friday, June 28, 2013

DESPACHO NA MINHA RUA


Há um despacho na minha rua
Na minha rua há um despacho
Gastou com frutas e charutos
O tonto tolo que passou na minha rua.

Tuesday, June 25, 2013

REFÚGIO


REFÚGIO
Mansa é a manhã que me recebe
No campo verde que a vista alcança
A montanha ao fundo é a guardiã
Deste lugar belo e silencioso
Cai uma fina garoa
Que é do meu gosto sempre
Sem alarde na sua calma e fria mão
Apaga o fogo da ira
Que em meu coração há pouco flamejava.


Wednesday, June 19, 2013

REALISTA


REALISTA
Tem início meio e fim
Assim é a vida
Não adianta acalentar algo diferente
Perda de tempo só
Imortalidade fica apenas nos papéis
Melhor viver cada dia como se último fosse
E esperar a dona da foice com o coração em paz.

Monday, June 10, 2013

ZOÓLATRA



ZOÓLATRA

Conheci uma deusa loura
Numa festa de amigos
Meus olhos grudaram na pessoinha
Meu coração caiu de amores
Ficamos juntos por algum tempo
Até eu descobrir que ela era zoólatra
E como não sou cão nem gato
Pouco tempo depois
Recebi um pontapé na bunda.


FARDO



FARDO
O fardo está pesado
Não quero mais carregar sobre os ombros o peso do mundo
Meus erros paguei com o remorso
Mal para ninguém faço
Quero uma sombra para repousar
E curtir com leveza o passar do dias
Pois as pedras que há muito carrego
Curvaram-me perante os homens.

LONGE


LONGE
Estou sentado sobre pedras num fim de mundo
O sol se põe
Desce a noite
Pirilampos passeiam
Sapos coaxam
Para passar o tempo
Eu tento contar estrelas
Que é um trabalho inútil
Fico então a ouvir
Os ruídos e silêncios da mata
Que acalmam meu coração
Esgotado da vida na metrópole.

Friday, June 07, 2013

URUBUS NA ÁRVORE


URUBUS NA ÁRVORE

Há urubus na árvore seca
Mirando o meu corpo esquálido durante dias
Peço calma aos amigos
Que não tenham pressa
Pois sozinho neste sertão
Não terei coveiro
E sobrará para eles
O grande prazer
De dar fim às minhas carnes.



NADAS


NADAS

Somos insignificantes para o universo
Um nada no todo
Mas diante de alguns valores da sociedade humana
Alguns seres se embriagam na fonte da vaidade
E vão construindo pela vida castelos de areia
Que se desmancham com o sopro da morte.


Thursday, June 06, 2013

NENHUM BUTIRÁCEO


NENHUM BUTIRÁCEO

Mesa posta
No meio da tarde
Pão seco
E café preto doce
Nenhum butiráceo
Cobrindo o pão seco
Mas quando a fome é grande
Pouco importa o engasgo.


Wednesday, June 05, 2013

PAULO TOALHA


PAULO TOALHA

Salvo uma tendência à preguiça Paulo não demonstrava nenhum sintoma de anormalidade. Atendia os clientes sem muito entusiasmo, mas não tratava mal ninguém. Cumpria seus horários, embora às vezes dormisse sentado. Porém um dia chegamos à conclusão que o colega não estava batendo bem da cabeça. Numa manhã visitou o banheiro exclusivo do proprietário, e na falta de papel higiênico limpou o rabo com a toalha de rosto do chefe. Pior não foi isso: dependurou a tolha de volta no suporte, embora estivesse meia centena de toalhas na despensa ao alcance das suas mãos para trocar a dita suja. Nem o patrão acreditou em tamanha barbaridade. Deu um sermão no jovem e não o mandou embora. Trancou o banheiro a chave e marcou uma consulta para ele. Daquele dia em diante nosso colega passou a ser chamado de Paulo Toalha. Pegou.

*Não é ficção, aconteceu numa empresa em que eu trabalhava no ano de 1979.

Monday, June 03, 2013

O VULCÃO INERTE


O VULCÃO INERTE
                           
O mau não mais teme a lei
O mau ri dos homens de toga
O mau afoga suas vítimas na violência gratuita
E sai rindo com deboche
Quando se instalará o caos não sabemos
Mas a verdade é que quando o estado está ausente
Um vulcão que parece inerte
Imerge de repente das ruas
Numa grande explosão de fúria
Apronta o cadafalso
Enforca por conta o maldito
E corre pelas ruas gritando
Queremos mais um!

CARTA AO COVEIRO MUNICIPAL


 Caro Senhor Coveiro:
Sou um esqueleto que descansa há muito no cemitério desta Graça Maior. Não quero mais ficar aqui, cansei desta vida solitária, desejo sair correndo por aí, sentir novamente o ar puro; ouvir o murmúrio das ruas; o perfume das mulheres; o cantar dos pássaros e ver a chuva fresca caindo do céu. Antes de ser monte de ossos dei duro na vida para conseguir minhas coisas, só eu sei. Fiquei sabendo que a moleza está grande aí fora, tem um tal bolsa-família que anda sustentando milhões de bocas necessitadas e outros milhões de vadios. Já consegui liberação de São Pedro para voltar ao mundo dos vivos, mas antes preciso de uma bolsa assim, para ficar numa boa. Sou 743 do Setor F.
Meu nome é Setembrino Gomes, 17/02/1939. Peço que fale com o prefeito e dê uma força para este amigo oculto de tantos anos.
Grato.