Monday, December 28, 2009

MINICONTO

KARATÊ


O ginásio todo colorido, flâmulas gigantes enfeitavam o ambiente barulhento. Os tatames prontos para os embates. Famílias empolgadas torcendo com entusiasmo pelos seus queridos. O esporte nascido na ilha de Okinawa e que atrai praticantes e apaixonados de todas as idades estava realizando um grande evento em minha cidade. Pais se esgoelavam incentivando seus filhos, que no tatame são surdos ao exterior.Empolgado pela festa bonita, entrei e transe e saí do meu corpo; encarnei Shungo Sakugawa na sua melhor forma.Bandidos imaginários avançaram sobre mim e foram derrotados com golpes certeiros, de uma técnica perfeita.Saltei degraus voando em câmera lenta e derrubei meia dúzia de adversários.Apliquei as mais diversos golpes fazendo arrepiar o pelo dos marginais.Uma enorme confiança me invadiu e me senti o dono do mundo, invencível e possuidor de infinitas capacidades.O povo parava nas ruas para ver e aplaudir o seu herói.Quando acordei dos geniais embates, estava caído no último degrau da arquibancada e com duas costelas quebradas.Na descida ainda empurrei mais dois magrelos para o chão.

MINICONTO

O GORDO

Trinta anos, media um metro e setenta de altura e pesava a bagatela de cento e vinte quilos. Para todos Daniel era uma referência como à padaria da esquina. As piadinhas e perguntas maldosas o fizeram preparar um arsenal de respostas marotas.
-E aí, ainda ta enxergando o pinto?
-Enquanto eu estiver vendo o teu rabinho, não me preocupo-respondia ele. Mas como todo ser humano ele foi se cansando das brincadeiras bobas e resolveu encarar um regime muito rígido. Sofrimento diário, um verdadeiro inferno. Quase nada de comida, frutas e exercícios em excesso. Dieta desgraçada capaz de matar de fome monge budista Mas não deu outra: quem carregou o caixão disse que ele pesava quarenta quilos ,já contando com o peso do invólucro de madeira.

Monday, December 07, 2009

MEU PAI ,PEDRO GONÇALVES PEDRA

Antes de o sol fugir das estrelas, todos os dias, eu me lembro dele.Não importa os caminhos que percorro, suas lembranças estão sempre comigo.Os dias correm, mas parece que foi ontem que ele estava junto de mim, contando piadas e contando fatos dos anos cinqüenta e sessenta.Contava estórias interessantes de pescarias e caçadas, das viagens de balsa pelo rio Uruguai, dos perigos nas matas oestinas, dos muitos aventureiros que pela região oeste transitavam.Sentados num sofá de curvin bordô, meu irmão e eu escutávamos atentos quando nos falava de bandidos, também de muitos valentes que viviam em nossa região.Era um tempo sem televisão, e nada melhor para aguardar a chegada do sono do que uma boa história.Está em minha memória todo ritual dominical que nós fazíamos para recebermos os trocados para a matinê dos domingos no Cine Ideal.Comédias, faroestes, filmes de capa e espada; nas tardes de domingo entravamos nos sonhos e participávamos deles.Quando não íamos ao cinema, nosso pai nos levava no velho Índio Condá.Com duas garrafinhas de Pepsi na mão, subíamos as arquibancas de madeira para torcer pelo Independente.Viva também está a lembrança das festas de Santo Antonio; os porquinhos-da-India correndo para dentro das casinhas e a criançadas vibrando com o prêmio ganho.O avião rodando sobre o tablado e todos torcendo para que parasse sobre o número que tinham na mão.Na grande festa almoçávamos todos juntos, vizinhos e amigos numa grande mesa.Boas lembranças carrego do meu querido pai.Tivemos por certo nossas diferenças, choque de gerações e algumas desavenças que não duraram muito.Mas trago dentro de mim uma enorme gratidão por ele ter sido um verdadeiro pai, pois quando dele precisei, não me abandonou, e sim me estendeu a mão.

Sunday, December 06, 2009

ENCANTO

Alegro-me com teu carinho e canto.
Acendo-me no fogo do teu beijo
Para depois em teu corpo me apagar.
Tu és assim
Um canto aonde me encontro
Um doce encanto de mulher.

SAUDADE DE QUEM JÁ PARTIU

O corpo na terra
E as lágrimas nos olhos daqueles que aqui ficaram
O corpo na terra
E tantos sonhos desfeitos num piscar de olhos
O corpo na terra
E no céu da noite mais uma estrela.

ENGAIOLADO-Miniconto-do meu Livro Rindo da Vida

O domingo era de sol. Poucas pessoas estavam na praça naquela hora. Enquanto o pipoqueiro gritava, o guarda municipal dormia num banco sombreado. Um pombo manso catava milho pela calçada.Crianças brincavam na areia com seus baldes e pás.Era um domingo normal,como outro qualquer já passado.Foi quando passou por mim um pássaro enorme com um homem engaiolado.O homem preso não gritava,não cantava.Através das grades de sua prisão vi apenas duas lágrimas caindo dos seus olhos. O pássaro proprietário parecia feliz.