Thursday, December 12, 2013

CONFORMADOS

Milhões de seres são como formigas
Caminham e trabalham sem pensar
Só esperam o contracheque todo final de mês
Para algumas horas de alegria
Luz
Água
Mercado
Magazine Luiza
Casas Bahia
Farmácia
Lá se vai a bufunfa e o adiamento de alguns sonhos
Não estaria na hora de voltar a estudar ou empreender?


Monday, November 25, 2013

NA ESPREITA

Abro completamente a porta do coração
E deixo a amizade entrar
Mas se eu não tomar cuidado
A falsidade aproveita a ocasião
E também entra junto.


VISITA

Corroído pela ausência
Não sabia o que fazer
Então num ato de coragem
Peguei a saudade pela mão
E fomos de surpresa visitar o coração da mulher amada
Navegando numa balsa feita de flores.


PARADOXO

Vejam só como são as coisas
O defunto está deitado sobre uma cama de flores
Para ele agora pouco importa
O paradoxo fica por conta de que quando vivo
Foi posto a dormir pelos mesmos floristas
Numa cama de espinhos.

Monday, November 18, 2013

BRINCADEIRA ANTIGA

Há sombras rondando a minha nova morada. Elas vêm todos os dias, sem hora determinada. São sombras silenciosas e rápidas, num piscar de olhos elas somem. Não tenho por elas nenhum sentimento, nem medo, nem amor. Saio do meu caixão, subo e me sento sobre um grande mármore escuro. O céu está limpo, consigo ver o sol, mas não o sinto. Vejo as sombras escondidas detrás de um jazigo. Grito para elas:
-Basta! Vocês já não me assustam mais! Agora sou apenas um fantasma como vocês!
Elas chegam até mim, se apresentam sorridentes e me contam como é a antiga brincadeira de assustar novos mortos. Só digo,"estou dentro".

Thursday, November 07, 2013

FANTASMA

No céu estava a lua. No caminho do nada um bebum sem rumo. Encontrei-me andando por uma deserta estrada de terra. Depois de muito caminhar esbarrei numa linda mulher nua e descalça que pisava macio sem fazer barulho algum. Paramos um de frente para o outro, olhos nos olhos. Seus olhos eram brilhantes, corpo curvilíneo, seios pequenos e pontiagudos. Perguntei o que ela fazia naquele lugar ermo, sozinha e nua. Ela me disse então que era uma “prostituta fantasma” e que vagava por aquelas estradas há anos. Perguntou de mim. Falei que era um homem em desespero, perdido. Como já estava me sentindo no inferno não tive medo. Com toda calma ela foi tirando minha roupa e ficamos os dois nus. Pegou na minha mão saímos da estrada. Após alguns passos dentro da mata chegamos até uma cabana. E lá então ficamos trocando carícias até o sol nascer. Nunca me senti tão bem. Dormi e quando acordei ela não estava mais comigo. Sonho? Também pensei, não fosse pelas marcas de batom no meu rosto. 

Saturday, November 02, 2013

PENOSA ANSIEDADE

É sábado. Galinhas assustadas perambulam pelo quintal ansiosas para saber que caiu no sorteio da degola para ser servida no almoço dominical. Mariazinha há uma semana faz exercícios e come muito pouco, quer parecer magra e doente. Carmem só come milho light, apesar de estar bem bundudinha. Cremilda reza o terço em espanhol e faz genuflexões sem parar. Anselma como bosta para pensarem que está louca. Vanda arrumou um esconderijo entre os arbustos e pensa em sair dele somente na segunda-feira. Marta se amasiou com o odiado pavão e foi morar com ele. O ambiente está pesado, existe um clima de tristeza entre as penosas, nem mesmo cocoricar há. No final da tarde chega o galo Ernesto para anunciar para o bem de todas que para o rango de domingo foi escolhido o porco Alberto.

Suspiros...

Wednesday, October 23, 2013

IRADO

O escritor, a cadeira dura, o computador, a tela branca e a inspiração que falha. Ele precisa escrever um conto para pagar suas contas (maldito trocadilho) e não há uma só ideia batendo à porta. Caminha, fuma, bebe e fuma, força o pensamento e nada de interessante se apresenta à mente. Sai da casa (que fica no interior, lugar sossegado) e olha para o grande verde em volta cheio de cantares, admira a limpidez d’água do riacho pedregoso que corre ali pertinho onde sempre que pode pesca jundiás. O nada criar acirra a ansiedade, os cigarros entram e saem dos lábios com maior rapidez. Há pequenos mosquitos incomodativos que ele espanta com fumaça solta em espiral. Sentado num tronco observa a chegada da noite e fica pensando como será o seu amanhã. A lua no céu olha para ele e ri com brilho. Na mente enumera assuntos para ver se algum deles responde ao chamado. Nada, nada, nada... Entra na casa novamente, vai até o quarto e abre a última gaveta da cômoda. De lá retira um estojo de madeira e o coloca sobre a cama. Retira a arma do estojo, carrega cinco projéteis e então alisa o revólver. Fica absorto por alguns minutos com os olhos no Taurus. Então vai a busca de sua potente lanterna, apanha umas iscas no latão e sai para pescar.

Na trilha, olha para trás e grita: foda-se a inspiração!

Sunday, October 13, 2013

AUTORIDADE

Era madrugada, estava eu parado numa esquina central esperando por um táxi. O céu todo forrado de estrelas, noite fria e bela. Nisso dois sujeitos se aproximaram e anunciaram: É um assalto! Não reagi, entreguei a carteira com documentos e dinheiro. Eles conferiram por cima o montante e pernas em ação. Logo depois eles regressaram, devolveram tudo e ainda por cima pediram desculpas. Um deles disse: “Desculpe o malfeito seu Evandro, pois para nós o senhor é uma autoridade. Uma boa noite!”
Sem demora surgiu um táxi e fui para casa aliviado...
Em tempo, meu nome é Evandro Capeta.


Thursday, October 10, 2013

ABANDONADO

Um livro na estante
Letras sufocadas querendo gritar
O pó já entrando em suas bocas
O conhecimento sendo afogado
E os inquilinos da casa em êxtase
Completamente satisfeitos na companhia da ignorância.


Sunday, October 06, 2013

VIVO

Os dias...
Não posso passá-los em branco
A tarefa de todo dia é pensar
Aprender algo novo
Valorizar todo o momento
Pois o tédio é o mal
A desgraça do ser
A própria morte em vida.



Tuesday, October 01, 2013

O fruto da boa reza

Todos os dias o tímido Paulo André, 30 anos, rezava para arrumar uma namorada. Trabalhava na Prefeitura como auxiliar de escritório e tinha muita fé. Também não era feio, porém por demais tímido. Não faltava missa e fazia muitas promessas. Não bebia, não fumava, não tinha nenhum vício. Certo dia numa festa na igreja deu com os olhos numa moça e ficou apaixonado. Foram se conhecendo e ela lhe contou que já fora freira, que largou o hábito fazia pouco, desejava uma nova vida. O namoro engrenou.  Paulo ficou tão feliz que até comentou com uma colega de repartição:

- Rezei muito e bem. Veja só como Jesus é legal! Mandou até sua ex-mulher para mim!

Tuesday, September 24, 2013

RATOS MAQUIADOS

Não há nada de novo por aqui
Os ratos continuam mais ratos do que nunca
Contaminaram a casa já meio bagunçada com urina e fezes
E o pior é ver eles na sacada
Acenando à multidão
Maquiados maravilhosamente
Para se parecerem
Não com ratos
Mas sim com araras multicores.


Tuesday, September 03, 2013

QUEM SOU EU

Ainda não sei bem quem sou
A cada dia me conheço um pouco
De médico tenho nada
De poeta pouco

Só possuo a certeza de ter muito de louco.

Monday, September 02, 2013

NAVEGO

Navego...
Nem todo dia as águas são calmas
Tempestades açoitam a rotina
Então às vezes paro e sonho para me fortalecer
Pois a vida  se torna muito pobre quando não há mais sonhos e esperanças.


Sunday, August 25, 2013

CASA ESCURA

Na minha rua há uma casa que chamamos de ‘CASA ESCURA’. Moram lá quatro seres, pais e filhos, que não gostam de luz. Não são maus, apenas tolos que vivem lambendo um tal de Senhor, que por sinal ninguém nunca viu. Faça inverno ou verão pouco se abrem as janelas e portas, e raras visitas só de alguns abençoados que também devem conhecer o tal de Senhor. Possuem da vida uma visão diminuta, mal enxergam a ponta do próprio nariz. São como morcegos vivendo na escuridão, respirando um ar cheio de bactérias, com medo da vida, não querendo conviver com os seres de diferentes tipos de fé. São isto sim adeptos do coitadismo explícito. Para eles os vizinhos não existem, Não há cumprimentos que a boa educação confere, existe sim fuga, luzes apagadas e silêncio, salvo se o visitante de momento trouxer nas mãos alguma doação. Os moradores da CASA ESCURA são os primeiros morcegos cristãos que conheço.

Thursday, August 15, 2013

QUEM SABE SETENTA?

QUEM SABE SETENTA?

A carne não é boa coisa
O sal nos mata
O açúcar nos mata
O ar está impuro
A água contaminada
Não sei como ainda estou vivo
Descontado todo exagero
Não viverei para sempre
Deixe-me viver setenta
Tendo alguns momentos de prazer.



Wednesday, August 14, 2013

COIOTES URBANOS

COIOTES URBANOS

Quando o sol se põe
E antes mesmo da lua
Iluminar nossas ruas
Os pavorosos desentocam

Se aproveitando da escuridão
Espreitam suas presas 
Os coiotes urbanos

De olhos esbugalhados
Corpos trêmulos
São galhos secos enlouquecidos pelo vício.


Tuesday, August 13, 2013

DESESPERO

Na noite do desespero
A escuridão está só
Não há lua
Não há estrelas
Apenas existe a dor
Que como ondas em mar bravio
Ressurge mais forte para afogar de vez o meu coração.

Friday, August 09, 2013

FIM

FIM

A morte
O fim de tudo
O sono dos sonos
A paz eterna
A estaca do éter
No coração do egoísmo.